Não me importo de me repetir, quando digo que a história completa do Sr. Aristides Pires, esse Dédalo e Ícaro, decano da nossa aviação experimental, está toda por contar, na íntegra pelo menos, alguém o fará, se não ele próprio, eu pelo menos assim o espero.
Pelos retalhos que ousei relatar em vários escritos (referidos abaixo), considero-me um tipo bastante afortunado de o ter feito, mas muito mais afortunado de o conhecer e de o ter como Amigo.
A sua história confunde-se com a do Moscardo, desde quando não passava de um projecto num papel, de uns quantos barrotes de madeira e folhas de contraplacado, às diferentes fases da sua construção, à sua certificação e voo, até aos dias de hoje, sempre a modificar, melhorar, e o introduzir alterações impostas pelo evoluir das regras.
Sempre que a inconstância dos caprichosos humores do Anticiclone dos Açores e das suas quatro estações diárias, de quando em vez, lá o Moscardo se dependura no éter e o seu ronco ecoa no terreno plano do Graben Terceirense, da Praia da Vitória até as Lajes.
Esta visita, que fiz no final de Junho, foi para mim o fechar de um ciclo já que, das muitas vezes que fui à Terceira, por muitas e variadas razões, nunca vi o Sr. Aristides a voar. Assim, e desta vez, assisti à preparação do aviador e da sua máquina estridente, e os vi descolar, com direito a diversas passagens sobre a pista, uma delas em rase motte, e depois o seu regresso, para o cerimonial inverso de recolher o Moscardo ao hangar, até à próxima vez. Não vos sei transmitir em palavras a alegria de ver este meu amigo a voar! E eu ali, feito um puto, sentado na relva, a ver isto tudo! Só mesmo estando lá para ver!
Aqui fica pois, mais que o vazio das minhas palavras, um pequeno apontamento fotográfico, também ele confinado às limitações do autor, tudo isto em louvor dos que ousam colar as penas com cera e elevar-se no éter.
O meu obrigado ao Sr. Aristides Pires, por continuar a viver o sonho.
Texto: Rui Ferreira
Entusiasta de Aviação
Junho 2017
Destapar o avião e começar a verificar os equipamentos.
Vamos lá ouvir outra vez o que nos diz o ATIS...
(Automatic Terminal Information Service)
(Automatic Terminal Information Service)
Combustível, CHECK!
Uma ajuda para acertar a posição das fitas do “Mae West”.
Lá fora o azul imenso espera o Moscardo.
O “tractor” é velhinho mas trabalha muito bem.
Entrar, apertar o cinto e mais um sorriso. Sempre bem disposto!
Motor a roncar e já o Moscardo rola para a posição de descolagem.
E eis que se dependura no céu! Uma segunda passagem, em “rase motte”.
E todo o trabalho de mais de uma hora de preparação, para
uns 10 minutos de voo, mas a satisfação é plena!
Confesso a minha alegria por estar ali com este meu Amigo!
Resta arrumar o Moscardo, até ao próximo voo.
Outros escritos:
Pássaro de um sonho [Muscardus Arisitidianus Açorianus] (M460 - 2RF/2011)
http://www.passarodeferro.com/2011/01/passaro-de-um-sonho-muscardus.html
Muscardus Açorianus Aristidiensis II (M222- 01RF/2013)
http://portadembarque04.blogspot.pt/2013/05/muscardus-acorianus-aristidiensis-ii.html
MOSCARDO EM RECUPERAÇÃO [Muscardus Aristidianus Açorianus III] (M260 - 02RF/2013)
http://portadembarque04.blogspot.pt/2013/07/moscardo-em-recuperacao-muscardus.html
A recuperação do “Moscardo” [Muscardus Arisitidianus Açorianus IV]
http://portadembarque04.blogspot.pt/2014/05/a-recuperacao-do-moscardo-muscardus.html
MOSCARDO EM VOOS DE EXPERIÊNCIA [Muscardus Aristidianus Açorianus - V]
http://portadembarque04.blogspot.pt/2015/03/moscardo-em-voos-de-experiencia.html
Nota do pessoal: De facto, para quem gosta de aviões, ir à Terceira e não conhecer este homem, é literalmente a mesma coisa que visitar a Cidade do Vaticano e não ver o homem que enverga as sandálias do Pescador. Agora deixem que eu pense (coisa rara) e em voz alta.
O Sr. Aristides já ameaçou, não que fosse a primeira vez, que vai pendurar as asas no cacifo, e eu dou por mim a pensar, e depois…? Sim, depois, o que vai acontecer a tudo aquilo, o avião, o material, a oficina, as ferramentas, os livros, documentos e sei lá que mais…?
O museu da ilha é simpático, mas evidencia não ter uma vocação para valorizar a muita história da aviação da ilha. Ainda bem que, pelo menos até agora, a Força Aérea Portuguesa ainda não foi chamada para lhes ceder um Puma ou um Aviocar, o que faria todo o sentido, mas é melhor não, já que o FIAT mantém-se guardado no hangar do aeroclube a acumular teias de aranha e toda a sorte de porcarias.
Entristece-me imenso dizer isto mas, somos fraco país para valorizar o acervo aeronáutico que compõe a nossa história, veja-se por exemplo a longa lista de aeronaves e artefactos de todo o tipo que fizeram parte dos mais de 100 anos da aviação, e que fomos perdendo pelo caminho.
Bem sei que vozes de burro não chegam ao céu, mas era bom que alguém, de vistas mais amplas, decida acautelar este importante acervo da história da aviação portuguesa!
Nota pessoal (Set.2020) - no facebook encontrei este video delicioso que não conhecia.
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/aviao-construido-em-casa/?fbclid=IwAR2dKXTSo7-a2UHX6sMRfi5WEmYgCq1KoG17fmbrbgaCHaNGX2fT1zIhADU
Fotos: Rui Ferreira e Susana Ponte
5 comentários:
Rui Ferreira. Obrigado por nos ter levado a voar com esse maravilhoso Sr. Aristides. Bem-haja.
Faltou identificar-me: Jorge Santos
Obrigado Jorge Santos! Tem de lá ir voar com ele!
Ao Exmo Sr Aristides Pires e grande amigo, os meus parabéns por ter ultrapassado as "barreiras" que o separavam a si e ao Moscardo de estender as asas, sulcando novamente este belo céu açoriano, que desejamos seja por muitos e largos anos. Ao autor, a minha respeitosa vénia, deste mero súbdito "ilhéu"....
Obrigado Viper! PAra quando os teus escritos sobre aviões por aqui?? Abraço Rui
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