Ciclicamente ouvimos falar da utilização das bases aéreas da FAP pelos mais diversos operadores civis, como alternativa milagrosa para um conjunto de soluções que não aparecem para os problemas de crescimento da actividade aérea nos principais aeroportos do Portugal continental. Uma discussão antiga que, curiosamente nos Açores, facto extraordinário, não se coloca, já que desde os finais dos anos 40 que a Base Aérea das Lajes é utilizada por operadores civis, ou seja, há … mais de 70 anos que não é um problema!
Adiante.
Actividade aérea civil
Data de 15 de Junho de 1947 o primeiro voo da SATA, entre S. Miguel e Santa Maria com um avião Beechcraft D-18S (reg. CS-TAA). A este seguiram-se voos para as outras ilhas, incluindo a Terceira, em carreiras regulares, sendo que um ano depois foram adquiridos dois De Havilland DH104 Dove para os voos inter-ilhas ( por perda do aparelho anterior por acidente).
Mas é só em 1971 que se regista a primeira aterragem de um avião da TAP nas Lajes, com o início das carreiras regulares de ligação entre Lisboa e Boston nos EUA.
A título de curiosidade, refira-se que nesse mesmo ano registou-se nas Lajes a aterragem de um aparelho Concorde, transportando o Presidente Francês Georges Pompidou, para um encontro tripartido que ali teve lugar, com o Presidente Norte-Americano Richard Nixon e o Chefe do Governo Português Marcelo Caetano.
Até à construção da aerogare existente, nos anos 80, a aerogare civil funcionou desde 1976 no espaço actualmente destinado à manutenção (antigo hangar dos P-3 “subhunters” da US Navy), sendo que anteriormente a esta data, o movimento aéreo civil se efectuava onde mais tarde ficavam os Transportes Aéreos Militares, e presentemente o Museu da BA4.
Ocupando uma área em contínua expansão e remodelação, a Aerogare Civil das Lajes, funciona numa área cedida pela FAP no extremo Sudoeste da pista, incorporando a aerogare e seus serviços de apoio.
É a Aerogare Civil das Lajes quem, nos últimos anos, tem o número mais significativo de movimentos, no seio da totalidade de movimentos registados na BA4, sendo certo que de acordo com os registos de 2008 (o meu registo mais antigo), cerca de 66% dos movimentos registados pelo controle aéreo dizem respeito à aviação civil portuguesa. De um modo geral pouco mudou até hoje, nos anos de 2018 a 2020, mesmo com uma quebra significativa no ano passado (30%), o tráfego aéreo civil representa em termos de valores médios, pouco menos de 75%, do total dos movimentos registados nas Lajes, sendo curiosamente a média dos três anos de 66% no que diz respeito à aviação civil portuguesa.
Com algumas oscilações ao longo dos anos do número de movimentos da FAP e das forças norte-americanas, e outros militares, estes números são ilustradores da experiência da FAP na manutenção numa infraestrutura militar de uma estrutura aérea civil.
Para além da Aerogare Civil das Lajes, existem em espaço contíguo, dois hangares também civis, de entidades que partilham os serviços da BA4, um pertencente ao Aero Clube da Ilha Terceira, de onde operam três aeronaves ligeiras (duas da classe experimental), bem como num outro hangar, que actualmente é utilizado pelos seviços de handling. Junto a estes, desde Fevereiro último, o nóvel edifício do terminal de carga aérea das Lajes.
Aero Clube da Ilha Terceira
Com a sua sede instalada em espaço gentilmente cedido pela direcção da Aerogare Civil das Lajes, e com hangar construído junto à placa de estacionamento civil, hangar esse que partilha com alguns dos seus associados possuidores também eles de aeronaves, o Aero Clube da Ilha Terceira (ACIT) foi, em verdade, e durante muitos anos, o único aeroclube dos Açores em funcionamento com aeronave operacional (existe ainda Aero Clube da Ilha Verde, em S.Miguel).
Fundado em 27 de Dezembro de 1991, o ACIT, possui um único Cessna 172M (CS-DBF) que presentemente se encontra inoperativo e, segundo julgo saber, está à venda. A operação das aeronaves do ACIT e dos demais sócios com aeronaves próprias, está protocolada com a FAP, sendo destes dependentes nas operações, controlo aéreo, e serviços de emergência.
Refira-se que operam desde as Lajes duas aeronaves de características únicas, ambas da classe experimental, nomeadamente um Rans S-6ES Coyote II (CS-XAJ) [características Experimental derivam do facto de ter de possuir alguns meios de sobrevivência no mar, já que a maior parte do voo é sobre água], e um Taylor JT1 Monoplane (CS-XAB), de construcção amadora, este último, como sabemos, uma bela máquina e um brilhante exemplo de construcção amadora, fruto da persistência do seu dono, o Sr. Aristides Pires.
Novidades do Sr. Aristides Pires e do seu Moscardo
E por falar no nosso decano aviador experimental, Sr. Aristides Pires, já não visitava este Amigo há uns anos, nem o ouvia de viva voz, apesar da máscara, pelo que arrisco aqui também tecer duas ou três notas acerca do Moscardo, essa passarola estrambólica e estridente à qual já nos referimos em diversas postagens anteriores (ver referências), e que está de boa saúde e recomenda-se, mas não na opinião das competentes autoridades.
Pois … assim como me reportam diversos amigos aviadores, da aviação ligeira, dos ultraleves e outros, e esta da classe experimental, ao que parece não há grande vontade de os ver todos a voar, de rodas no ar, e a bater as asas, muito pelo contrário, sob a capa da regulamentação ultra-rigorosa e hiper-meticulosa posta em práctica por técnicos pueris altamente especializados como passageiros do longo curso de autocarros com asas (vulgo couching), parece que a autoridade que tutela a aviação civil põe tantos entraves que parece não quer ninguém a voar. Talvez prefiram que se vão todos registar-se em países que, com as mesmas regras ou outras quiçá mais rígidas, são mais facilitadores daquele que é o propósito da aviação: voar.
A mim, que sou constructor amador e esporádico de aviões de papel, chateia-me particularmente porque não gosto de ver o Moscardo no chão, fica com o semblante fechado e triste.
Não é feliz…
O Moscardo estará no chão até quando?
O que vale ao Sr. Aristides é o seu bom humor e espírito inabalável!
E como diria o Eng. Sousa Veloso, despeço-me com amizade, até ao próximo programa.
Rui “A-7” Ferreira
Entusiasta de Aviação
Nota – O autor não escreve segundo o actual acordo ortográfico.
Agradecimentos – Aristides Pires, Miguel Santos, Cor. Filipe Azinheira.
Sobre o Muscardus Aristidianus Açorianus …
Pássaro de um sonho [Muscardus Arisitidianus Açorianus] (M460 - 2RF/2011)
http://www.passarodeferro.com/2011/01/passaro-de-um-sonho-muscardus.html
Muscardus Açorianus Aristidiensis II (M222- 01RF/2013)
https://portadembarque04.blogspot.com/2013/05/muscardus-acorianus-aristidiensis-ii.html
MOSCARDO EM RECUPERAÇÃO [Muscardus Aristidianus Açorianus III] (M260 - 02RF/2013)
https://portadembarque04.blogspot.com/2013/07/moscardo-em-recuperacao-muscardus.html
A recuperação do “Moscardo” [Muscardus Arisitidianus Açorianus IV]
https://portadembarque04.blogspot.com/2014/05/a-recuperacao-do-moscardo-muscardus.html
MOSCARDO EM VOOS DE EXPERIÊNCIA [Muscardus Aristidianus Açorianus - V]
https://portadembarque04.blogspot.com/2015/03/moscardo-em-voos-de-experiencia.html
O VOO DO MOSCARDO [Muscardus Aristidianus Açorianus VI]
https://portadembarque04.blogspot.com/2017/07/o-voo-do-moscardo-muscardus.html
Nota do Autor – esta questão da utilização das bases aéreas por operadores civis, é uma discussão que, como se diz na minha terra, já mete um certo nojo. Como disse no início, ciclicamente ouvimos falar da utilização pelos mais diversos operadores civis das bases aéreas da FAP como alternativa milagrosa para um conjunto de soluções que não aparecem de geração espontânea, para os problemas de crescimento da actividade aérea civil, que cresce tanto em sítios onde existe, como chega até a crescer em sítios onde não existe. Aqui há uns anos, o problema da imensa actividade aérea no Algarve, mais a necessidade de criar um hub de carga aérea, foi solucionado com Beja, com uma espécie de “aeroporto part-time” contiguo à Base Aérea nº11… O problema de Fátima, outro, tamanhas as hordas de fieis encatrafiados em charters vindos de todo o Mundo e arredores interestelares para rezar à Virgem (o que ela tem de aturar), eram tantos que se deveria abrir ambas as Portas de Armas de Monte Real (BA5) aos civis e ... não os vemos (os charters), por isso não há razão para abrir portas com ou sem armas... E o problema do costume do Terreiro do Paço, perdão, Lisboa, esse sim é um problema Nacional, que não se resolve, pois há uma terrível dificuldade, quiçá gramatical, de conjugar “solução” e “séria” na mesma frase … agora lá se encontrou a “solução Montijo” (BA6), e a FAP a ter de fazer as malas … ah, e os flamingos, como vamos fazer com os flamingos do estuário do Tejo? Taditos …
Á parte de considerações várias sobre esta questão, uma discussão que já se arrasta há muitas décadas, e que toca as raias de uma palhaçada sem graça, tema que continua a depauperar os bolsos dos contribuintes, é muito interessante verificar, um facto extraordinário que se passa nos Açores, que desde os finais dos anos 40 que a Base Aérea das Lajes, portanto quase desde a sua origem, é utilizada por operadores civis, ou seja, há … mais de 70 anos que não é um problema!
Quando se projectam obras estruturantes para qualquer país com a escala de um calendário de bolso (quatro anos), ao invés de construir para a frente, como quem planta uma nogueira, pois...
Temos de plantar mais nogueiras…